A arte de produzir efeito sem causa, Lourenço Mutarelli.

Eu não escolheria ler o Mutarelli agora, de jeito nenhum. Eu sabia que seria pesado, eu sabia que não podia contar com um livro que me animasse, mas ele veio até mim, e essas coisas a gente não escolhe.
De qualquer forma, o livro foi o que eu precisava, de forma intensa e logômana, ele tem um ritmo ensandecido, cheio de idas e vindas, me absorveu e dois dias depois, tinha sido devidamente devorado (e expôs todas as feridas que lhe cabia expor).
Resumindo, um cara - Júnior - larga o emprego e o casamento, volta pra casa do pai, bebe conhaque e fuma em doses cavalares. Dividido em livro 1 - Efeito - e livro 2 - Nonsense -, acompanhamos Júnior em dois momentos muitos distintos, os dois de queda, mas em velocidades diferentes (e vertiginosas); como isso afeta o seu comportamento consigo mesmo e o quanto é afetado pelas pessoas à sua volta, ainda que ausentes - só pra provar que ausência física não cura feridas, não é garantia de esquecimento, muito menos de perdão.
Não tenho certeza, mas acho que o personagem principal seja a psique do Júnior, o que não deixa de ser a psique de todos nós, em certa medida.

Perturbador, ousado, cruel, nauseabundo - e por isso mesmo visceral, intenso, atraente. Como um baque seco, o livro esclarece muitas coisas pelo modo mais dolorido, não acho que deva ser lido em dias de crise ou quando há excesso de desesperança. Mas quando os pés bambeiam, é bom saber que tem coisas ainda mais pesadas, ainda mais intensas, pra se sentir nublado, e com força nos pés. Não é?

MUTARELLI, Lourenço. A arte de produzir efeito sem causa. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.




(E, obrigada, estou certa de não estar louca, nem em vias de.)